sábado, 16 de abril de 2011

Dólar e inflação racham Governo Dilma Rousseff

Atacar a inflação controlando ou liberando a entrada de dólar? Esse é o novo grande dilema do Governo Dilma. A presidente, na China, onde colheu resultados controvertidos, diante da resistência chinesa em desvalorizar sua moeda, que desestabiliza os concorrentes no mercado internacional, como faz, relativamente, às indústrias brasileiras, considerou a política cambial o ponto mais sensível da economia.

A titular do Planalto, no entanto, revelou impotência, porque a solução não estaria em decisões meramente internas, nacionais, mas na articulação, no plano internacional, de nova política monetária global. Por enquanto algo abstrato. A decisão apoiada por ela, na reunião dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), de combater a crise cambial em marcha com a remoção do dólar como moeda de reserva equivalente para as trocas comerciais globais e a adoção de uma cesta de moedas internacionais para substituí-lo, demonstra que a as contradições internas se internacionalizaram, para explodirem no âmbito do comércio exterior.

O dólar, que penetra aos borbotões no país, por força das decisões do governo Barack Obama de elevar sem limites a quantidade da oferta de moeda na circulação capitalista global, sob juro baixo, para ativar a produção americana, sobrevaloriza excessivamente as demais moedas, menos a chinesa, o yuan, que está amarrado à moeda americana, para o bem e para o mal.

Tal estratégia americana, para evitar o aumento da dívida pública interna, que já alcançou a casa dos 14 trilhões de dólares, desorganiza completamente a economia brasileira. Passa a representar a maior fonte de instabilidade no ambiente em que vigora no Brasil a maior taxa de juro do mundo em nome do combate à inflação.

Ao atrair mais dólares, o juro alto, que poderá subir ainda mais, na próxima semana, em reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), eleva perigosamente o endividamento do tesouro nacional, obrigando o governo a desembolsar mais recursos do contribuinte para pagar os serviços da dívida, já no patamar dos R$ 200 bilhões/ano.

Sobra, consequentemente, menos reais para os gastos públicos em educação, saúde, segurança, infraestrutura etc, comprometendo os investimentos goverrnamentais com o Progrrama de Aceleração do Crescimento (PAC). A contragosto, Dilma estaria adotando medidas recessivas para satisfazer os interesses dos credores em prejuízo dos seus eleitores. Nesse contexto, a equipe econômica governamental está em pleno processo de divisão interna quanto à estratégia mais adequada para combater a inflação, porque ela passou a ser vítima direta da política cambial.

A divisão do governo Dilma entre os intervencionistas Guido Mantega e Luciano Coutinho, de um lado, e os não-intervencionistas Alexandre Tombini e Antônio Palocci, de outro, quando ao controle da  entrada ou não de moeda americana na economia, demonstra que as contradições tomaram conta da equipe governamental quanto à melhor maneira de controlar a inflação. O consenso escapa a ela quanto mais as tensões inflacionárias se ampliam.

Antonio Palocci e Alexandre Tombini estariam, para contrariedade de Mantega-Coutinho, rendendo-se às idéias que os integrantes da chamada Casa da Gávea passaram a pregar. Integrada pelos ex-presidentes do Banco Central, Armínio Fraga, Gustavo Franco e Pedro Malan, além de Edmar Bacha e Pérsio Arida, executores exponenciais do Plano Real, ligados ao mercado financeiro, a Casa da Gávea tornou-se pregadora da liberação geral da entrada de dólar para atacar as pressões inflacionárias. Seus expoentes defendem choque de dólar barato que fortaleceria ainda mais o real para adquirir as importações a preços crescentemente baixos, diminuindo os preços internos.

Na prática, a dívida pública cresce no lugar da inflação, como efeito reflexo. Se a dívida sobe demais, a ponto de o mercado financeiro exigir mais juros para rolá-la, apressa-se a possibilidade de detonar impasse cambial. O governo, diante desse perigo, passaria a correr risco de hiperinflação. A economia tenderia a voltar aos tempos pré-Plano Real. Inchar a dívida via liberação cambial para tentar segurar a inflação poderia representar economicídio. O jogo econômico, afetado pela política monetária americana, vai ficando cada vez mais perigoso e explosivo.(Jornal da Comunidade)

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